Chegada quase a hora da verdade, temos mais uma entrevista a uma das grandes vozes do liberalismo na Assembleia da República. Ela dispensa grandes apresentações: em apenas um ano de mandato enquanto deputada, é hoje a nossa cabeça de lista no círculo eleitoral de Lisboa, líder da bancada parlamentar da Iniciativa Liberal, vice-presidente do partido e federada em bridge — falamos, claro, da Mariana Leitão!
Mariana Leitão
BIOGRAFIA: Mariana Leitão, 42 anos, deputada e líder da bancada parlamentar da Iniciativa Liberal desde 2024. É coordenadora da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e da Comissão de Poder Local e Coesão Territorial. É ainda vice-presidente do partido. Na anterior legislatura foi chefe e gabinete do Grupo Parlamentar. Antes de assumir este desafio, desempenhou a sua atividade profissional na área da gestão. Licenciada em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa, com pós-graduações em International Management pelo INDEG/ISCTE e em Data Science & Business Analytics pelo ISEG. Federada de bridge, Mariana Leitão entrou para a Iniciativa Liberal em 2019 e no ano seguinte foi eleita coordenadora do Núcleo Territorial de Oeiras, cargo que ocupou até ao final do mandato, que ocorreu em fevereiro de 2022. Em 2021 foi eleita deputada municipal de Oeiras nessa mesma autárquica, cargo que exerceu até 2024. Entre 2020 e 2022 foi presidente do Conselho Nacional da Iniciativa Liberal.
Sem mais demoras, fica a conhecer a Mariana nesta entrevista do Megafone Liberal de Lisboa! Obrigado, Mariana, pela tua disponibilidade, e pelo que esperemos ser um mandato completo e com mais força liberal!
És deputada na Assembleia da República desde 2024 — há menos dos quatro anos que a constituição prevê para cada ciclo legislativo. Com três eleições legislativas desde 2022, o que vês atualmente como principais desafios da democracia portuguesa, e o que oferece a IL para a sua solução?
Fui eleita deputada apenas em Março de 2024 e, como tal, o mandato supostamente de 4 anos, durou apenas 1.
A instabilidade política dos últimos anos é o reflexo de um sistema político esgotado, onde a lógica da sobrevivência partidária tem-se sobreposto ao interesse dos cidadãos. Três eleições legislativas num só mandato são um sintoma de um sistema bloqueado, incapaz de gerar estabilidade e resultados.
Um dos maiores desafios da democracia portuguesa é precisamente este: reconquistar a confiança dos portugueses. E essa confiança só se reconstrói com responsabilidade, transparência e confiança.
A Iniciativa Liberal propõe medidas para restaurar essa confiança junto dos portugueses: criação de um círculo de compensação para que todos possam votar de acordo com as suas convicções, fim das nomeações partidárias no Estado, políticas concretas para que o sistema judicial seja mais célere, eficaz e transparente, definição de políticas públicas com base em dados concretos, com monitorização e avaliação rigorosa quanto à sua execução e transparência real no uso de dinheiros públicos.
Há algo que parece transversal às gerações que cresceram nos últimos 30 anos e que se apresenta como contra-natura à grande convergência com o restante mundo democrático que Portugal em tempos experienciou. Hoje um jovem adulto, muitas vezes altamente qualificado, não consegue esperar uma maior qualidade de vida que os seus pais. O que entendes deste movimento contrário à mobilidade social que Portugal tem vindo a passar nas últimas décadas?
Este é talvez o sinal mais gritante do falhanço do modelo económico e político que tem dominado Portugal nas últimas décadas. Um jovem qualificado, com talento e ambição, vê-se hoje forçado a escolher entre emigrar ou aceitar uma vida de frustração.
O que está na origem desta estagnação é um Estado que asfixia a economia com impostos, que sufoca quem cria valor com burocracia, que bloqueia a inovação com favoritismos e monopólios protegidos.
Não me canso de repetir que Portugal precisa de um novo modelo de desenvolvimento. O atual assenta em salários baixos, dependência do Estado, subsidiação crónica da economia e fuga constante ao risco e à inovação. É um modelo baseado na sobrevivência, não na ambição.
A Iniciativa Liberal propõe uma mudança estrutural: uma economia aberta, competitiva, centrada no mérito e na inovação. Isso significa reformar a fiscalidade para que trabalhar e investir compense, desburocratizar para libertar quem quer criar valor e ter um Estado mais leve, que não atrapalhe nem aprisione, mas que esteja verdadeiramente focado nas suas funções primordiais e ao serviço das pessoas.
Um país onde uma geração inteira sente que fez tudo bem e, mesmo assim, não consegue viver melhor do que os pais é um país que precisa de mudar e depressa.
Tens formação em ciências políticas e relações internacionais. A teu ver, o que é que te parece estar na origem do ceticismo e combatividade dos vários partidos portugueses — mesmo os do centro — ao liberalismo como projeto político?
O liberalismo mexe com o sistema e isso assusta os partidos políticos, que vivem há décadas numa lógica de gestão do poder e partilha de influências.
A Iniciativa Liberal tem uma cultura político-partidária muito distinta dos restantes partidos e a nossa postura ameaça os interesses instalados porque nós queremos mesmo uma ruptura: com o compadrio, com o Estado omnipresente e uma despesa pública galopante dispersa em setores sem qualquer interesse para o país (veja-se o exemplo do Setor Empresarial do Estado ou da TAP), sempre com o contribuinte a pagar a fatura, seja ela qual for.
E no plano internacional, sobre o qual os outros partidos estão muito silenciosos, como entendes o papel de Portugal na Europa e no mundo? Estamos à altura dos desafios que enfrentamos?
Num mundo em transformação acelerada, com ameaças reais à liberdade, à segurança e ao progresso, é urgente que Portugal tenha e manifeste posições claras: ao lado da liberdade, das democracias liberais, da economia aberta, da segurança coletiva e dos direitos humanos.
Portugal deve ter uma política externa ativa, ancorada no projeto europeu. Devemos ser mais do que um beneficiário da União Europeia - devemos ser um agente ativo na sua reforma. Queremos uma UE mais competitiva, menos burocrática, com uma política externa e de defesa comum eficaz e uma aposta real na inovação.
Defendemos também o reforço da NATO e o aumento sustentado do investimento nacional na Defesa, de forma responsável e com planeamento, não só por compromisso com os nossos aliados, mas porque a segurança é condição indispensável da liberdade.
O silêncio dos outros partidos sobre estes temas não é por acaso: preferem não ter de escolher. A Iniciativa Liberal escolhe: liberdade, segurança, inovação e ambição.
Entraste na política nacional recentemente — mesmo que pareça há muito tempo, dado o número de eleições nesse período — e entretanto tornaste-te líder do nosso grupo parlamentar. Como descreves a experiência de pôr em ordem os irredutíveis liberais, e qual foi até agora o teu momento parlamentar de que mais te orgulhas?
Liderar um grupo parlamentar liberal é tudo menos aborrecido. Somos pessoas diferentes, com visões próprias e opiniões fortes, mas muito coesos porque estamos unidos por uma mesma convicção: o país tem de mudar e a Iniciativa Liberal é decisiva para essa mudança.
Temos mostrado desde o primeiro dia que é possível fazer política sem politiquice, materializando as nossas ideias em propostas concretas, com argumentos fundamentados, dados, rigor e coragem. Isto é, sem dúvida, o que mais me orgulha. E isto não é mérito exclusivo do grupo parlamentar, é um trabalho inexcedível que todos têm feito ao longo do tempo — dirigentes, deputados, assessores e membros, que juntos têm contribuído para o percurso e crescimento da Iniciativa Liberal.
Por fim, sabemos que tens, como muitos liberais, opiniões muito fortes sobre música. Para acabar esta campanha e chegar a dia 18 com boa música, que músicas recomendas?
Duas músicas que gosto muito e espero que sirvam de inspiração para quem as vá ouvir depois: This Fire — Franz Ferdinand & Mountain at My Gates — Foals.
A primeira é o grito de quem não veio para gerir o sistema, mas para o transformar. A segunda é sobre a luta constante e a determinação frente ao obstáculo.
É este o espírito da causa liberal.