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Conhece os Liberais: José Cerdeira

Primeiro Presidente da Junta liberal em Lisboa!

No rescaldo destas eleições autárquicas, o Megafone teve que decidir quem entrevistaria para esta edição especial. Com um grande crescimento da Iniciativa Liberal nos órgãos autárquicos de Lisboa havia muito liberal por onde escolher, mas destaca-se um em particular. Bombardeou a sua lista de contactos com mensagens, saiu à rua até às altas horas da noite a fazer campanha e acabou eleito Presidente da Junta de Campolide — falamos, claro, do José Cerdeira!


Agora que a poeira da campanha assentou, qual é a memória mais divertida ou o momento mais inesperado que guardas destes meses a percorrer Campolide? Aquela história que daqui a uns anos vais contar aos teus amigos e família?


Tive várias histórias engraçadas. Uma das que me lembro agora é que estava a falar com uma senhora na rua e a perguntar-lhe o que é que ela gostava ou não gostava em Campolide, e ela basicamente estava-me a dizer que estava satisfeita com tudo. Eu já estava a pensar que estava a falar com alguém que nunca ia votar em mim, mas ainda assim continuei a falar e a tentar perceber o que é que eram as aspirações dela, quais eram os problemas que ela achava, que não achava, até que de repente ela me disse "ah, olha, na verdade o meu marido (ou namorado) já não me lembro, já falou contigo no Messenger!" Eu tinha andado a falar com imensas pessoas e a adicionar imensas pessoas do Facebook, a partir dos grupos de Facebook dos moradores de Campolide. Então, o namorado dela já tinha falado comigo, era trabalhador da Junta de higiene urbana e veio-me dizer que gostava muito do meu estilo e que ia votar em mim. E portanto, eu estava a falar com alguém com quem, na verdade, já tinha tido contacto ainda que indireto. Aconteceram várias coisas assim. Eu adicionei imensas pessoas no Facebook — até o Facebook me proibiu de adicionar mais pessoas! — e o mais divertido foi mesmo quando comecei a perceber que estava a encontrar pessoas pela segunda vez, ou que já tinha contactado de outra forma, ou que já se tinham percebido por mim, e isso fez-me perceber que estava mesmo a chegar a algumas pessoas.


Depois foi sempre divertido andar com o meu carro sempre cheio de tralha — uma sede móvel de campanha. Foi muito engraçado.


Houve ainda uma outra coisa que foi o meu último dia de campanha. Eu tinha uns quantos flyers ainda para gastar, portanto decidi que não fazia sentido pô-los no correio, então íamos andar horas e horas, passámos três horas e meia a pé, eu mais duas voluntárias — uma delas membro da lista — e um outro voluntário que se juntou no final. Mas essencialmente no início eu e essas duas voluntárias, a palmilhar Campolide e a pé, e distribuímos muitos flyers em três horas e meia. Às onze e meia da noite, depois de começarmos às oito e meia, viro-me para uma das voluntárias e pergunto se não estavam à espera que isto demorasse tanto tempo, ao que ela responde "não, de tudo". Mas pronto, como o candidato não estava a desistir nem a arredar pé, elas lá decidiram continuar comigo e ficámos a destruir flyers até à meia-noite mesmo!


E assim foi. Acho que foi muito engraçado.


A Iniciativa Liberal estreia-se na gestão de uma junta de freguesia em Lisboa com a tua presidência. Que “marca liberal” queres deixar em Campolide? Onde é que os teus fregueses mais vão notar a forma mais liberal de gestão freguesia a curto ou médio prazo?


Eu não sei se vai ser uma marca exatamente liberal, mas pelo menos uma marca de profissionalismo. Na gestão da Junta nós já nos estamos a aperceber que vamos conseguir — e vamos lutar por isso — deixar uma gestão mais profissionalizada, com mais autonomia de decisão para várias partes da Junta de Freguesia, com uma Junta de Freguesia menos centralizada em decisões discricionárias, mais baseada em sistemas de decisão, em critérios para a decisão. E isso vai levar a uma Junta de Freguesia mais rápida a decidir, com decisões melhor sustentadas, com decisões mais justas e imparciais, e mais liberais, no sentido de que as coisas que a Junta pode providenciar de apoio devem ser como contrapartidas reais para a vida da população. E, portanto, acho que essa marca vamos seguramente deixar e vamos ter uma Junta com uma marca diferente.


Além disso, acho que há um aspecto da mensagem liberal que às vezes não passa tão bem, que é como é que nós lidamos com os funcionários públicos. E eu acho que a maneira como nós devemos lidar com os funcionários públicos é com exigência, mas também dando-lhes recursos para eles poderem trabalhar. E, por isso, acho que vamos apostar, e tentar apostar bastante, na formação de quadros, também dos quadros públicos da Junta de Freguesia. Oxalá o consigamos fazer, e é uma matéria que vai dar pano para mangas e vai ser um projeto que, mais para o meio do mandato, nos vai apaixonar muito.


Fizeste uma campanha única na cidade e os resultados falam por si próprios. Que experiência retiras da forma próxima com que conduziste a campanha e da maneira como utilizaste as redes sociais?


Bem, eu acho que há aqui duas coisas. Há, de facto, um aspecto da comunicação em que eu verdadeiramente já tenho mais algum treino e conseguimos fazer conteúdos apelativos e que funcionavam para o algoritmo. Mas eles só funcionavam bem para o algoritmo e só funcionavam bem nas redes sociais porque eram conteúdos com os quais as pessoas de Campolide se identificavam. E, portanto, o mais importante de tudo é que as pessoas querem ser ouvidas. E quando tu fazes conteúdos que mostram que foste investigar bem, que foste falar com pessoas na rua, que baseaste os teus conteúdos não só numa tua mensagem de proposta inicial, mas que tu adequaste essa proposta programática aos problemas das pessoas, adequaste-te às respostas que as pessoas pensam que podem ser adequadas ou não, adequaste-te aos problemas que as pessoas dão mais importância e não àqueles que tu achas que vais ter mais capacidade de resolver. Quando isso tudo é integrado na maneira como as pessoas estão a falar e tu, ao mesmo tempo, estás a falar de uma forma próxima, de uma forma sem formalismo, as pessoas sentem que: um, as ouves; e dois, sentem que tu és próximo porque falas de forma próxima. E então aí a coisa corre realmente muito bem e tem muito potencial para ocorrer, porque a típica resposta a esta mensagem é "é isso mesmo, é isso que eu sinto e que até nem sabia exprimir tão bem, ou que ainda não tinha ouvido ninguém a dizer!"


E, portanto, quando tu sentes que vais tendo uma ou outra reação desse género, isso significa que estás a fazer bem e é para prosseguir nesse caminho. E eu senti isso, alguma vez ou outra, nos conteúdos que estava a fazer, de modo geral, mas mais em particular num ou noutro. Por exemplo, no conteúdo que fiz sobre os dejetos caninos…


Campolide esteve dezasseis anos sob gestão do PS. Passadas quase duas décadas desta gestão, quais os principais desafios que encontras e como é que os pretendes enfrentar?


Eu acho que o principal desafio é um desafio que se relaciona com a resposta que eu já dei à pergunta anterior sobre a marca Liberal, que eu disse que era uma marca profissional de autonomia. Eu penso que encontro uma Junta de Freguesia em que a decisão e o planeamento estavam muito centrados apenas e só no executivo, com pouca autonomia para a decisão, o planeamento e o pensamento dos trabalhadores da junta de freguesia. E há muitos quadros capazes. E, portanto, essa é a principal dificuldade ou algo que gostaria de mudar. E como é que isso se faz? Bom, isso se faz por um lado com muitos processos, faz-se com disponibilidade para delegar, faz-se com disponibilidade também para ver decisões a correrem menos bem, mas aproveitar isso para a formação de quadros, e faz-se com muita confiança que pode às vezes não correr inteiramente bem, mas que no futuro vai tornar a Junta de Freguesia num organismo muito mais eficaz e capaz, e mesmo capaz para além da duração do nosso mandato. Ou seja: queremos deixar uma Junta de Freguesia capacitada e menos dependente — queremos uma burocracia que funcione bem.


Essa parte é a parte mais urgente e a primeira a tratar, que é o como se fazem as coisas. Depois temos a parte mais ideológica, que é o que faz a Junta de Freguesia. E aí vamos querer uma Junta em que os apoios sejam olhados de uma forma diferente, mais liberal, e para isso eu gostava de deixar ainda o véu um bocadinho fechado, tenho o meu programa, mas gostava de adaptar o meu programa à realidade. Mas certamente há muita coisa que faremos diferente.


Estás agora no início do teu mandato e tens quatro anos de governação pela frente. Se nos encontrarmos para outra entrevista ao fim destes quatro anos, o que gostarias de poder dizer sobre Campolide nessa altura?


Bem, acho que três coisas:


Gostava de ver uma freguesia onde a atual situação do estacionamento não acontecesse desta forma, onde não tivéssemos que ter os lugares que temos a ocupar completamente o espaço público e, portanto, que tivéssemos mais lugares mas em que eles estivessem a ocupar menos do espaço público. Depois queria que tivéssemos uma freguesia em que as pessoas começassem a dizer que parece que o comércio e a vida de bairro está a voltar porque se criaram condições para isso. E, finalmente, eu gostava de poder dizer que as condições de habitabilidade para as pessoas que moram no Bairro da Liberdade melhoraram.


Se eu conseguir essas três coisas, já terei sido um presidente de junta acima das minhas próprias expectativas. Gosto de manter as expectativas realistas para que, tendo os pés na terra, consigamos chegar o mais alto possível.


Para terminar, tens alguma mensagem ou reflexão que gostasses de deixar para os liberais de Lisboa?

Não façam coisas em campanha ou de ação política só porque toda a gente o faz. Tenham sempre — a sério — as atividades que querem fazer, os objetivos que querem, com cada uma das ações que querem fazer.

Vou-vos dar um exemplo. Eu em campanha fiz apenas duas visitas a instituições. O típico de uma campanha: aquelas visitas clássicas para apertar as mãos às pessoas e aparecer numa fotografia a dizer "fomos visitar a instituição X e aprendemos as suas preocupações, etc…" Na minha campanha fazia zero sentido. Quase todas as instituições estavam já ligadas de alguma forma à candidatura oposta e eu precisava de correr por fora, de encontrar diretamente as pessoas e de me fazer conhecido, porque eu não era conhecido — eu não tinha a mínima hipótese de vir a conseguir ter um apoio intermediado pela representação ou pelo apoio direto dessas instituições. E, portanto, a única maneira que eu tinha de conseguir era chegar diretamente às pessoas.

Num outro tipo de campanha, numa outra freguesia, talvez fizesse sentido fazer muitas dessas justiças institucionais. Para a minha campanha não fazia nenhum sentido.

E podia ter acontecido. Por acaso não tive muito questionamento sobre isso porque, na verdade, as pessoas que estavam a trabalhar mais diretamente comigo percebiam a estratégia. Mas podia ter acontecido. Mas alguém podia ter dito "mas estão aí estas visitas que todas as freguesias estão a fazer, tu não estás a fazer porquê?" e eu tenho certeza que teria explicado e não teria feito só porque era para fazer.

Portanto é isso, não façam igual o que não é para fazer igual.

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Conhece os Liberais: José Cerdeira
José Cerdeira 16 de novembro de 2025
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