Com esta edição do Megafone Liberal tão próxima das eleições legislativas, achámos por bem dar voz a quem dará a cara pela Iniciativa Liberal na Assembleia da República. Dos quarenta e oito lugares que Lisboa tem na casa da democracia, três são liberais — um número que todos queremos ver a crescer! Como tal, não há nada melhor que dar a conhecer aos lisboetas quem os pode representar durante a próxima legislatura, e para isso decidimos entrevistar uma candidata cujo trabalho e defesa do liberalismo em Lisboa é inescapável.
Sem mais demoras, apresentamos a nossa entrevistada: Angélique da Teresa!
A Angélique é responsável de comunicação, deputada na Assembleia Municipal de Lisboa e Vice-Presidente da Iniciativa Liberal. Natural de St. Denis (França), tem dois filhos, e licenciou-se em Ciências do Desenvolvimento e Cooperação, detendo uma pós-graduação em Ciências Políticas e um mestrado em Ciências da Comunicação (variante de Media e Jornalismo).
Tem cerca de 20 anos de experiência em comunicação e marketing em diversas empresas privadas, e é atualmente responsável de comunicação numa empresa do setor imobiliário. É uma das fundadoras da Iniciativa Liberal, foi membro do Conselho Nacional e contribui para o iLab na área da habitação, tendo participado no desenvolvimento e desenho dos programas legislativos e autárquico.
Segue abaixo a nossa pequena entrevista por escrito, e obrigado, Angélique, pela tua disponibilidade para nos responderes a estas questões!
A IL votou a favor da moção de confiança que acabou por chumbar e fazer cair o governo de Luís Montenegro, algo que parece ter sido bem recebido entre o eleitorado que nos reconheceu como os "adultos na sala". O que retiras deste momento da nossa democracia, considerando que as últimas eleições legislativas (também elas antecipadas) foram há pouco mais de um ano?
Não só as pessoas não queriam eleições antecipadas, como já tinham sido apresentadas duas moções de censura pelo Chega e pelos seus respetivos parceiros, o PCP. Estas moções tinham sido rejeitadas e apenas por tática político-partidária, Luis Montenegro apresentou esta moção de confiança que já sabia que seria rejeitada. Mas ainda assim, quis forçar o PS a “dobrar a espinha”, tal como tinha acontecido no Orçamento de Estado.
Nem o PS, nem o PSD cederam e naquele dia, provavelmente, assistiu-se a um dos espetáculos mais degradantes na Assembleia da República, em que pudemos assistir ao vivo a uma pseudo-negociação entre o bloco central, o que veio reforçar ainda mais o papel da Iniciativa Liberal, como sendo o único adulto na sala.
A leviandade com que se tomam estas decisões são um fator de grande preocupação, porque parece que voltámos ao tempo da I República em que os governos não aguentavam tempo nenhum. E quando isso acontece as pessoas cansam-se e muitas vezes desistem da democracia e escolhem o autoritarismo.
Nas legislativas de 2024 estiveste perto de ser eleita, mas a tua experiência política vai bem mais além desse momento. És deputada municipal em Lisboa, e acompanhas o projeto liberal desde a sua fundação. O que é que te trouxe ao mundo da política local e nacional?
Desde sempre tive interesse na política e não tenho dúvidas que esse interesse se deve à minha mãe. Quando era criança incutiu-me dois princípios basilares que repetia constantemente: Trabalhar para ser financeiramente independente e votar para que ninguém decidisse por mim.
Ela admirava a coragem e o espírito reformista de Simone Veil e Margaret Tatcher, por isso desde pequena ouvia muitos dos discursos destas grandes senhoras, em casa. Acho que o bichinho da política veio daí.
Para além disso, sou naturalmente inconformada, portanto tinha duas opções: ou ficar no sofá a reclamar (onde fiquei muito tempo), ou sair da minha zona de conforto e tentar construir algo de diferente. Optei pela segunda opção.
Na tua qualidade enquanto deputada municipal tens um contacto privilegiado com a política municipal. O que consideras ser dos temas da política local que em São Bento menos atenção se dá?
Há tantos temas, mas diria que a reforma administrativa e as finanças locais são fundamentais, urgentes e uma luta que a Iniciativa Liberal terá de encabeçar, porque não são os partidos de sempre (PS e PSD) que terão interesse em alterar, seja o que for. Aliás viu-se a violência com que o regime reagiu ao posicionamento da IL ao votar contra a desagregação das freguesias, o que comprova que há muito trabalho a fazer e quem nem sempre será fácil, mas estamos cá para isso. Depois há temas menos abrangentes, mas que são igualmente importantes por causa das muitas queixas dos munícipes, principalmente nos grandes centros urbanos, como é o caso do licenciamento zero, por exemplo.
Pela Europa fora têm surgido desafios (internos e externos) à democracia liberal que tem definido o projeto europeu. Seja devido às tarifas de Trump, a guerra de Putin sobre a Ucrânia ou a crescente vaga populista e extremista que tem assombrado muitas eleições europeias, parece que a causa da liberdade não tem descanso. Que tens a dizer destes (ou de outros) desafios, e sobre como combatê-los?
Às vezes os direitos que achamos que são um dado adquirido, afinal não são. Os tempos que vivemos provam-nos isso mesmo, daí esta citação de Mário Vargas Llosa, que nos deixou recentemente, ser tão atual: “A cultura da liberdade é frágil, difícil de construir e fácil de destruir.”
Acho que de forma genérica a política e a sociedade está, toda ela, mais crispada e por isso mais uma vez, acho que há duas opções: ou deixamos o caminho aberto aos extremistas e populistas, porque são ruidosos; ou enquanto moderados fazemos o que nos compete e apresentamos as nossas ideias. Muitas vezes até assumimos uma função mais pedagógica, que nem sempre é a mais óbvia, nem a que nos traz resultados a curto prazo, mas parece-me que é a única forma possível de fazer política, ainda mais agora. Há um ano atrás seria difícil de acreditar que o xadrez geopolítico sofresse todas estas alterações, mas as dificuldades também trazem oportunidades e por isso, este tornou-se o momento em que se tornou obrigatório falar e defender a reforma do estado. Mais do que nunca. O aumento de despesa no setor da Defesa vai acontecer, logo não é possível que os portugueses continuem a aceitar que o dinheiro dos seus impostos continue a ser atirado para cima de serviços e institutos que são redundantes, que se sobrepõem ou que não são eficientes. A reforma do Estado só depende de nós e é precisamente por aí que temos de continuar a insistir, porque só com um estado ágil e forte nas funções que realmente são da sua competência poderá fazer face a estes desafios todos.
Por fim, não te podíamos deixar sem te pedir umas palavras para os liberais de Lisboa em particular. No meio da azáfama, esforço e (sim!) loucura que uma campanha eleitoral exige, que palavras de inspiração e ânimo nos podes oferecer?
A IL, apesar da sua recente experiência no meio autárquico, conseguiu impor-se com seriedade e moderação. Os nossos primeiros autarcas que estrearam o liberalismo no poder local conseguiram ser reconhecidos, até pela concorrência. No início nem sempre foi fácil, ora porque eramos novos, ou inexperientes, ou não tínhamos passado político, ou por não termos passado autárquico. Tudo serviu para desvalorizar as nossas propostas e as nossas recomendações, para que muitas vezes e logo a seguir, as víssemos a ser copiadas por outros, ou até a serem adotadas pelos próprios executivos.
Para além disso, Lisboa, por ser a capital, é a cidade da qual todos se servem e onde o poder local é mais descurado. Ao longo do tempo, os Presidentes da Câmara usaram sempre o município como forma de trampolim e nunca se dignaram a fazer as reformas necessárias, porque isso não traz votos. Não tenho dúvidas que esta “instrumentalização” faz com que Lisboa tenha problemas que não são sequer um tema noutros centros urbanos. Exemplo disto é o quebra-cabeças da Higiene Urbana; a ineficiência da própria Câmara; as delegações de competências sem relatórios de execução conhecidos; a rede de saneamento obsoleta; as dívidas alucinantes de rendas não cobradas nos nossos Bairros Municipais; uma gestão patrimonial que deixa muito a desejar, enfim… poderia continuar que não teria espaço suficiente. Se não for a Iniciativa Liberal, parece que não se mexe a agulha, por isso acho que depende de todos nós, Pormos Lisboa a Funcionar.